Mostra de todo coração de Rosa Esteves

 

A exposição de todo coração idealizada por Rosa Esteves, foi contemplada pelo Edital ProAC nº 21 no Concurso de Apoio a Projetos de Artes Visuais no Estado de São Paulo e inaugurou o calendário de 2012 da Graphias – Casa da gravura. Foi idealizada em três módulos expositivos: de todo coração, memórias submersas ou prisioneira da passagem e seu retrato, e um quarto módulo em forma de um impresso, espalhe o coração pela cidade que foi distribuído ao público. Ocupou as três salas de exposição no andar superior da galeria.

Resgatar a memória de alguém que nasceu no fim do século XIX é difícil. Principalmente se esse alguém com o passar dos anos foi esquecido e deixou pouca informação a seu respeito. As pessoas com que conviveu não existem mais e as poucas que poderiam ter alguma lembrança dela, na época eram crianças.

Lembro-me que quando menina, eu devia ter uns oito anos, fomos algumas vezes com meu pai, levar minha avó para visitar sua tia que estava em um sanatório. Corria o fato de que ela era louca, e tinha sido internada quando viajou aos Estados Unidos. “…ela voltou de navio em “camisa de força”, tio Vitalzinho foi buscá-la no porto de Santos e internou-a, em São Paulo…”

Era um sanatório no Itaim. Lembro-me que o lugar ficava no fim de uma rua, que fazia uma curva para a direita. Este local, hoje eu sei, era o Sanatório Bela Vista, que foi desativado nos anos oitenta.

Até então as informações que eu tinha indicavam que, tia Nicinha, como era chamada, havia tido um surto e desta forma fora encaminhada para tratamento, tendo sido internada no início de 1930. Ela morreu em 1967. Minha avó dizia que quando ia visitá-la ela não a reconhecia. Passou 37 anos de sua vida internada. É a sua história que pretendo resgatar. Desde 2003, realizo uma pesquisa para levantar informações a seu respeito, já tenho uma visão um pouco mais clara de quem foi Tia Nicinha. Alguns espaços ainda estão em branco, mas, aos poucos, espero conseguir preenchê-los, com fatos ou ficção. Esta exposição, em sua homenagem, é o primeiro resultado sobre o resgate de sua memória.

Rosa Esteves, 2011

Assista o vídeo da exposição:

Acesse o catálogo da artista:

Sala I – de todo coração

Este núcleo, foi constituído pela instalação de todo coração, a sala teve as paredes pintadas de preto e uma estrutura de metal que, sustentava 49 corações de cerâmica iluminados internamente com leds azuis. Um aspecto importante foi o som necessário a essa ambientação intimista, a escolha recaiu sobre o uso de vozes femininas. (ver vídeo abaixo)

Sala II – memórias submersas ou prisioneira da passagem

Esta pesquisa se apoia na questão tensão/ruptura. O foco central é a instabilidade que se instala em uma situação limite, a exemplo do que aconteceu com Eunice, tolhida e segregada, por não se encaixar nos padrões sociais da época. É este instante que me interessa: o momento da sua imersão num universo paralelo, múltiplo e não regido pela razão.

Para a construção desta ideia utilizei os corações de cerâmica que fotografei em um rio, trabalhando assim com três camadas de imagens sobrepostas. A imagem subaquática – o fundo do rio onde os corações estão localizados, a superfície da água com o seu movimento vibrátil e o reflexo do entorno, céu e arvores, na mesma superfície.

Na serie de imagens realizadas numa gruta minha intenção era captar a luz do meio dia que entrava por uma pequena fresta do teto. Este momento tinha uma curta duração e era mutante já que a luz refletida acompanhava o caminhar do sol, e se transformava muito rapidamente. Pude assim trabalhar dois opostos, a claridade e a escuridão.

Sala II – seu retrato

Neste núcleo, trabalho a reconstrução do seu retrato, busco o intangível refletido no seu semblante. E é no seu olhar que encontro o que procuro. Capturo então, nos retratos de família, a imagem de Eunice.

Atemporais, não pertencentes a lugar nenhum, os retratos – agora, gravura-objeto, balançam soltos num espaço onde a memória se esgarça com o passar do tempo.

Módulo impresso – espalhe o coração pela cidade

A proposta deste núcleo foi a realização de um impresso com tiragem de aproximadamente 2.500 exemplares com distribuição para público. A idealização deste objeto-impresso se pautou na diluição dos limites entre a divulgação de um projeto de arte e a própria arte, colocando inclusive a possibilidade de protagonista ao visitante, na medida em que criou um espaço/convite para a sua ação.

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