Mostra 4 Tempos de Darel Valença Lins

Nesta mostra, que a Graphias faz de Darel, o recorte por mim executado circunscreve três conjuntos claramente diferenciados do trabalho do artista. Os conceitos propostos nesses conjuntos são claros, evidentes e conscientemente elaborados por ele.
1- As ilustrações Darel, como Marcello Grassmann, Aldemir Martins e outros da mesma geração, esteve profundamente ligado à ilustração. Gravadores, a ligação deles com as artes editoriais foi uma junção que poderíamos chamar de natural. A segunda geração de modernistas da literatura
encontrava sua contrapartida na gravura que a ilustrava.
Darel além de ilustrador foi também diretor técnico da Sociedade dos Cem Bibliófilos do Brasil.
Fundada em 1943, a sociedade editou, entre 1943 e 1969, 23 obras de literatura brasileira, ilustradas por grandes nomes de nossas artes plásticas, das quais 16, entre 1953 e 1966, produzidas por Darel e duas, Memórias de um Sargento de Milícias de Manuel Antonio de Almeida (1954) e Poranduba Amazonense de João Barbosa Rodrigues, (61) também por ele ilustradas.
2- As cidades Segundo afirmativa do artista, em sua primeira viagem à Europa, a riqueza artística de Roma, o impacto do passado greco-romano e a Renascença, disponíveis em cada colina, em cada igreja, mais as experiências das vanguardas o deixaram embasbacado. Tudo estava feito. O que fazer?
O pulo Recife/Roma, embora via Rio de Janeiro, foi traumático.
Em uma conversa com Morandi, com quem conviveu durante em sua permanência na Itália, Darel questionou: “Arte abstrata ou figurativa”? Morandi respondeu a isso de maneira curiosa:
“Precisamos reencontrar a confiança que perdemos na natureza”. Aproximando-se de uma janela
Darel olhou para a paisagem enquadrada por ela e insistiu: “Nesta natureza que vemos”?
Respondeu Morandi: “Não na que vemos, mas naquela que nós cremos”. Nasceu aí o olhar que a
partir dos anos sessenta do século vinte criaria, na Espanha, a extensa série de calcografias chamada de Cidades. As vistas, desenhadas por trama vigorosa, um entrecruzar de traços que as velam e desvelam, revelam para o embate abstrato versus figurativo uma sutil solução.
3- As mulheres Aprendi litografia com Bacalhau (impressor, na primeira metade do século XX, de rótulos comerciais dos biscoitos Aimoré), diz Darel quando perguntado sobre sua iniciação nesta técnica.
Apenas litografia em preto e branco, ressalta.
Foi com Otávio Pereira, impressor com experiência na Gemini G.E.L. de Los Ângeles, nos anos sessenta no Rio de Janeiro e depois na Ymagos em São Paulo, que Darel retomou a litografia, incorporando o uso de cores.
Mantendo seu peculiar grafismo litografa quase que exclusivamente mulheres. São litografias
de formato médio para grande, com mulheres nuas ou seminuas, flagradas em momentos de intimidade, numa tradição que remonta a Cezanne em seu voyeurismo como em sua aproximação com o corte fotográfico e incorpora elementos do PopArt .
O enquadre da cena ou da modelo é feito de tal modo que, em algumas imagens, restam apenas fragmentos metonímicos, onde cores primárias, predominando o vermelho e o negro, criam um forte clima de tensão.
São três aspectos, que nossa breve, porém creio, interessante visada, traz do artista.
Nori Figueiredo

Darel Valença Lins (Palmares PE 1934). Gravador, pintor, desenhista, ilustrador, professor. Aos 13 anos, trabalha como aprendiz de desenho de máquinas na Usina de Catente, em Pernambuco. Entre 1941 e 1942, estuda na Escola de Belas Artes do Recife, atual Universidade Federal de Pernambuco, e atua como desenhista tipógrafo numa repartição pública. Muda-se para o Rio de Janeiro em 1945. Em 1947 estuda gravura em metal com Henrique Oswald no Liceu de Artes e Ofícios. Realiza a primeira individual em 1949, na Biblioteca Nacional. Desenha para vários periódicos, como a revista Manchete e o jornal Última Hora. Ilustra diversos livros, entre eles Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida; Porandubas Amazonenses, de Barbosa Rodrigues; Angústia, de Graciliano Ramos, e Amos e Servos, de Dostoievsky. Leciona no Museu de Arte de São Paulo, na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, e na Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Armando Álvares Penteado, em São Paulo.
Vai para a Europa com o prêmio viagem ao exterior, obtido no Salão Nacional de Arte Moderna do Rio de Janeiro em 1957. Entre 1968 e 1969, executa painéis para o Palácio dos Arcos em Brasília, e em 1979, para a IBM do Brasil, no Rio de Janeiro.
Fonte: Itaú Cultural

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